surge longe daqui
no fio do horizonte
e atropela de azul
o brilho preto da noite
o dia é uma bala
atinge o já alvejado
peito da calmaria
tinge de gente a rua
espalha corpos na via
o dia é uma bala
sacode a carne inerte
jorra vermelho-vida
abre vermelhos lábios
engrossa fúnebres filas
o dia é uma bala
zune meio ao silêncio
esvazia os abrigos
contrai negras pupilas
sangra bocas e ouvidos
o dia é uma bala
fura porta e janela
rompe órgãos e tripas
escorre sobre calçadas
afoga as avenidas
o dia é uma bala
atravessa a garganta
derruba os ponteiros
embaça olhos e vidros
acerta a vida em cheio
o dia é uma bala